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[Texto] A Garota Cinza
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[Texto] A Garota Cinza
A Garota Cinza
Lá estava ela. Toda trabalhada em escalas de cinza e preto. Sua camiseta outrora fora estampada com o nome de alguma banda de rock, mas o tempo levara a estampa e deixara a camisa apenas preta, tão envelhecida e desgastada que já se tornara quase cinza. As calças costumavam ser roxas, mas a fuligem do dia-a-dia e o desleixo da garota a deixaram mais preta que a blusa. E a mesma fuligem e o mesmo desleixo tornaram o rosto dela também cinza.
Mas não a boca, e não seus olhos. Seus olhos eram feitos do azul claro mais belo que eu já havia visto, algo como a cor que as hortênsias têm perante a luz do luar e dos primeiros raios de sol. Seus olhos, vez ou outra postos em cima de mim, que contrastam tão bem com seus lábios azul meia noite, estes sim eu queria sobre mim...
Ela jogava truco, com alguns fora da lei mais imundos que nós dois juntos, e aquela coisinha azul meia noite havia proferido mais palavrões na ultima rodada que eu em minha vida toda. Pedi uma ultima dose e anunciei:
- Vou jogar.
Não era um pedido, e não admitia recusa e o máximo que ela fez foi balançar os ombros cinza, e falar algo como:
- Um ladrão a mais ou a menos não fará diferença.
A risada dos homens foi gostosa, e a minha amarga, mas eram palavras tão vazias quanto meu copo e aquelas duas coisinhas azul hortênsia tinham um brilho mais ardido que o cigarro em sua boca. Puxei a cadeira e as cartas e lá se foi a noite, entre doses de bebida baratas, perdas e ganhos e, horas depois, estavam todos tão bêbados que já não distinguiam as cartas.
Fomos embora daquele hospício que chamamos de lar. Sim, fomos, eu e aquelas coisinhas azuis. “Na minha casa ou na sua?” Perguntei, e a resposta foi muda. Despiu-se ali, a luz da lua, despiu-me, e possuiu-me. Sim, foi ela que me possuiu, num ato mudo. O ato de uma garota cinza que conhecia todos os palavrões, mas nenhuma palavra de amor.
Texto originalmente postado no http://insensatoteclado.blogspot.com.br/
Lá estava ela. Toda trabalhada em escalas de cinza e preto. Sua camiseta outrora fora estampada com o nome de alguma banda de rock, mas o tempo levara a estampa e deixara a camisa apenas preta, tão envelhecida e desgastada que já se tornara quase cinza. As calças costumavam ser roxas, mas a fuligem do dia-a-dia e o desleixo da garota a deixaram mais preta que a blusa. E a mesma fuligem e o mesmo desleixo tornaram o rosto dela também cinza.
Mas não a boca, e não seus olhos. Seus olhos eram feitos do azul claro mais belo que eu já havia visto, algo como a cor que as hortênsias têm perante a luz do luar e dos primeiros raios de sol. Seus olhos, vez ou outra postos em cima de mim, que contrastam tão bem com seus lábios azul meia noite, estes sim eu queria sobre mim...
Ela jogava truco, com alguns fora da lei mais imundos que nós dois juntos, e aquela coisinha azul meia noite havia proferido mais palavrões na ultima rodada que eu em minha vida toda. Pedi uma ultima dose e anunciei:
- Vou jogar.
Não era um pedido, e não admitia recusa e o máximo que ela fez foi balançar os ombros cinza, e falar algo como:
- Um ladrão a mais ou a menos não fará diferença.
A risada dos homens foi gostosa, e a minha amarga, mas eram palavras tão vazias quanto meu copo e aquelas duas coisinhas azul hortênsia tinham um brilho mais ardido que o cigarro em sua boca. Puxei a cadeira e as cartas e lá se foi a noite, entre doses de bebida baratas, perdas e ganhos e, horas depois, estavam todos tão bêbados que já não distinguiam as cartas.
Fomos embora daquele hospício que chamamos de lar. Sim, fomos, eu e aquelas coisinhas azuis. “Na minha casa ou na sua?” Perguntei, e a resposta foi muda. Despiu-se ali, a luz da lua, despiu-me, e possuiu-me. Sim, foi ela que me possuiu, num ato mudo. O ato de uma garota cinza que conhecia todos os palavrões, mas nenhuma palavra de amor.
Texto originalmente postado no http://insensatoteclado.blogspot.com.br/
ómikron- Novato
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